O NOME DAS LETRAS



...letras com nomes lá dentro...































segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Devem os meus pais ensinar-me a ler?


A resposta é igual à de tantas outras perguntas no domínio da psicologia e da educação: sim e não. Para alguns teóricos é mais "sim", para outros "não". Para algumas crianças é "se calhar sim", para outras é "se calhar não". É uma temática muito debatida e complexa porque implica muitos conceitos.
As opiniões são divergentes e todas apresentam a sua razão de ser. É aquela antiga história dos quatro homens cegos e do elefante: Era uma vez quatro homens cegos que chegaram perto de um elefante.
- Que será isto? - perguntaram-se uns aos outros.
O primeiro aproximou-se da pata traseira do elefante e disse:
- Isto meus senhores parece-se com um tronco de árvore. É redondo, rugoso e grande. Sim, não há dúvida, isto é um tronco de uma árvore!
O segundo aproximou-se e, tocando num dos lados do tronco do elefante, exclamou:
- Não é nada disso! Isto, meus amigos, é uma parede lisa, áspera, enorme. Isto é uma parede!
O terceiro, ao tocar na tromba do elefante, disse:
- Estão enganados , isto é uma cobra. É fina, enrola-se toda sobre si própria. De certeza é uma cobra!
O quarto, tocando na orelha do animal, conclui:
- Lamento dizer que nenhum de vós tem razão. Isto é uma gigantesca folha de árvore. É fina, lisa, tem uns veios, mexe-se ao sabor do vento. É igual às folhas das árvores sob as quais dormimos a sesta.
Todos eles tinham a sua razão, cada um era dono de um pedaço da verdade. Teriam de juntar cada verdade para chegarem à verdadeira conclusão: era um elefante.
A verdadeira verdade sobre esta questão é difícil de encontrar e não é o que pretendo fazer com estas linhas. Apenas quero partilhar as minhas experiências relacionadas com a aprendizagem da leitura como professora e mãe, levando em conta algumas opiniões de psicólogos e outros técnicos de educação.
O maior desafio é em primeiro lugar tentar "descer" ao nível da criança, tentar perceber o que ela não percebe ou como percebe, apesar de todos os princípios que sabemos sobre o desenvolvimento e aprendizagem da criança. A psicóloga Sara Bahia dos Santos tenta explicar porque a resposta à pergunta inicial é simultaneamente "sim e não": a expressão oral é a base da expressão escrita, o que ler e escrever implica a mais do que falar é o uso de símbolos diferentes: as letras.
O que podem os pais (e educadores) fazer para ajudar a criança na aprendizagem da leitura?
- Falar com a criança, escutá-la com atenção.
- Fazer desenhos.
- Ler e ver livros.
- Contar-lhe histórias.
- Fazer com que a criança veja os pais a ler e a escrever.
- Ter cuidado com os livros.
- Receber cartas, cartões de Natal ou aniversário, enviar e receber mails...
- Elaborar e enviar convites de aniversário ou desenhar e "escrever" para os avós...
Estas são apenas algumas das formas de dar a entender à criança as diferentes formas de comunicar e representar o que ela conhece e PERCEBER PORQUE É QUE É PRECISO LER...
Ensinar a ler implica muito mais do que ensinar a criança a descodificar os sons das palavras que ela pronuncia, fazer corresponder a cada som uma letra de modo a poder formar palavras. A tarefa da criança é perceber que se já consegue ler "a pata" ou até o seu nome também consegue ler muitos dos títulos e palavras dos livros de sua casa ou outros, os cartazes, placas e reclames quando passa na rua... é nesta área que pode e deve ser ajudada pelos pais. Ensinar a ler implica, também ensinar a criança a perceber a utilidade da leitura, a gostar de saber mais, a aperceber-se melhor da linguagem, a expressar ideias e sentimentos, a entender que existem diferentes pontos de vista, tentando construir o seu próprio conhecimento.
Se tudo isto for estimulado em casa, facilitará a tarefa da criança que é tentar aprender e a do professor que ensina a aprender.

POR TUDO ISTO A RESPOSTA É SIM PORQUE:

- Quando os pais são modelos falantes para a criança que vai aprendendo a falar, proporcionam-lhe a oportunidade de utilizar símbolos para referir objectos e conceitos que a criança vai tentando representar interiormente. Ela aprende que "cão" tanto é o cão que ela está a ver, como o cão que ela não vê - a representação do cão, associando a palavra à imagem que ela conhece.

- Quando os pais lêem o jornal ou um livro e eventualmente explicam à criança algo do que leram, ela pode ir percebendo que ler é importante, proporciona mais conhecimentos e informações sobre o mundo à sua volta. se a criança não vir os seus pais a ler, provavelmente, poderá não gostar muito de ler...

- Quando os pais lêem histórias de livros às crianças, normalmente, elas ficam fascinadas com o que está naqueles "desenhos esquisitos" a preto e branco. Verificam que esses "desenhos" dizem muito mais que as próprias imagens, que elas percebem e esse poderá ser um motivo para as incentivar a desejar saber ler.

- Quando os pais vão corrigindo, sem criticar, as palavras que a criança pronuncia incorrectamente ou as frases mal construídas, estão a ensiná-la a falar melhor e a contribuir para que a criança mais tarde, na escola... escreva bem, o que diz bem.
Na maioria das situações do dia a dia, os pais estão a contribuir sem se aperceberem, para a aprendizagem de muitos dos pré-requisitos necessários à aprendizagem da leitura.
"Saber falar" e perceber para que serve ler são bases fundamentais para facilitar a aprendizagem da leitura.
Os pais poderão ajudar numa série de "jogos" que facilitam a aprendizagem da leitura:

Distinguir sons e as sílabas das palavras que fala - uma criança "preparada" para ler começa por perceber que as palavras que diz são constituídas por uma sequência de sons, agrupados em sílabas e esses sons são representados por letras. Se por acaso a criança perguntar se o nome do amigo começa pela letra tal, porque não pedir-lhe para dizer ou inventar outras palavras que comecem pela mesma letra. Ou pedir-lhe para dizer qual o som porque começam os nomes dos amigos. Ao propor tarefas deste tipo devemos ter em conta que é mais simples distinguir, primeiro, sons contínuos:
"r","f","v","s","z","ch","j"...
e depois todos os outros. Ao facilitar esta capacidade de discriminação fonética, estamos também a ajudar a criança a não confundir os sons próximos e a corrigir alguns dos fonemas que ela tem tendência para pronunciar incorrectamente. Podemos jogar ao jogo dos "detectives" e por exemplo tentar descobrir na sala "coisas" começadas por "j", por exemplo, janela ou então palavras que tenham "ão": cão, balão...
Também podemos bater palmas quando a criança se atrapalha com as sílabas de uma palavra, por exemplo se a criança diz "manica", batendo palmas para cada sílaba: má-qui-na.
Todas estas tarefas devem ser encaradas como um "jogo", sem insistência, levando a criança até onde pode ir. Se insistirmos poderemos obter exactamente o contrário, a criança poderá deixar de gostar destas tarefas. Se ela não conseguir, não faz mal, chegará a altura em que estará preparada para tal.

- Na escola é frequente as paredes das salas conterem trabalhos e registos feitos pelas crianças, mesmo nas salas dos três anos. Esta é uma actividade que pode e deve ser continuada em casa. A criança poderá por exemplo, com ajuda de um adulto escrever um bilhete ao pai para lhe contar como foi a ida ao supermercado...Ou fazer um resumo da história que lhe contaram e ilustrar. Desta forma a criança poderá aperceber-se de que a informação escrita é uma fonte de prazer!



- POR TUDO ACIMA REFERIDO A RESPOSTA É NÃO PORQUE:

Se os pais ensinarem aos filhos aquilo que a escola deve ensinar, como é que eles poderão gostar da escola e reconhecê-la como um local de aprendizagem e descoberta?...




- O QUE FAZER?...

- Estimular a curiosidade natural que a criança possui para aprender e perceber o que se passa à sua volta. Ajudá-la a perceber que ler é bom... fascinante e que para se saber ler é preciso representar os sons que as palavras têm através de letras. Tentar que ela descubra para que serve ler, pois quando aprendeu a falar, foi porque teve necessidade disso para comunicar. É essa necessidade que cada criança terá de tentar encontrar para conseguir aprender a ler.

- Ajudá-la a perceber que o que aprendeu na escola, também se pode utilizar em casa e em outros locais. Ou seja se ela é capaz de ler o livro de leitura, também é capaz de ler os livros da estante do quarto, as receitas do bolo ou da pizza, as instruções do jogo, as indicações das placas na rua... e poderá aperceber-se porque é importante não estragar os livros e descobrir o prazer de aprender e de ler...

Adaptado de Sara Bahía dos Santos

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