O NOME DAS LETRAS



...letras com nomes lá dentro...































sábado, 22 de agosto de 2009

Projecto "Histórias para aprender a ler..." - Uma cartilha com Histórias de Letras...



Esta é a primeira das histórias deste projecto que pretende envolver e desenvolver o prazer de ler e ouvir ler com as histórias, os encarregados de educação, os alunos... e a aprendizagem da leitura. Todas as crianças aprendem com quem têm uma relação afectiva e este deve ser o ponto de partida para todas as aprendizagens. Em primeiro lugar devemos entender o facto de que um professor, numa situação normal, não pode competir com os pais na sua relação afectiva. Quem melhor do que os pais para ensinar a aprender? Os pais podem não ter cursos de pedagogia, mas decerto têm o mais importante: a relação afectiva. Logo é fundamental para mim aceitar e pedir a ajuda dos pais na minha tarefa de ensinar a aprender. Esta é uma das principais razões deste projecto. E claro, se reflectirmos um pouco, é fácil entendermos o porquê das histórias: Quantos de nós não recordam com alguma nostalgia, as histórias que ouvíamos ou líamos em crianças ou ainda quando pedíamos para ler repetidamente a mesma história? Os laços afectivos que estabelecemos com o livro e a leitura, ainda hoje perduram nas nossas memórias. No entanto, não devemos entender que basta lermos histórias a uma criança para ela aprender a ler. Esta aprendizagem depende de muitos outros factores, como é referido em alguns artigos que aqui irei colocar e dos quais aconselho uma leitura atenta. E relembrando sempre que em educação, como em muitos outros campos não existem "receitas". No entanto, não é difícil reconhecermos a importância do facto das crianças ouvirem ler histórias, conviverem com os livros e falarem deles e das suas histórias, relacionando-as com as suas vivências e influenciando a aprendizagem da leitura. Como exemplo, Ramiro Marques, na sua obra "Ensinar a ler, aprender a ler" refere: "Mason (1981), citado por Jensen (1985), fez uma revisão da literatura sobre o tema, indicando que a leitura de histórias simples às crianças pequenas, é mais importante para a aquisição inicial de conhecimentos sobre a leitura do que várias outras actividades literárias como a designação de gravuras e a escrita de palavras e letras. Irei tentar ser mais preciso na resposta à questão "porquê ler histórias às crianças pequenas?" Todos os investigadores aceitam que as crianças aumentam os seus conhecimentos sobre a escrita e a linguagem das histórias quando os adultos lêem ou relêem os livros com gravuras de que elas gostam mais. Jensen, num artigo publicado no número de Novembro de 1985 da revista Youg Children defende a ideia de "o conhecimento da escrita e da história parece aumentar nas crianças quando em casa: várias pessoas lêem à criança; a criança pede muitos livros para reler; a criança discute livros de histórias com outros; a criança pretende ler ou partilhar livros com o irmão mais novo" (Jensen,1985, p. 21).

Projecto "Histórias para aprender a ler..." - Uma cartilha com Histórias de Letras... Um tracinho com um chapéu de pintinha Era uma vez um tracinho assim: I
Ia a caminho da escola quando encontrou uma bolinha pintinha. Ela era tão redondinha. Parecia mesmo um pontinho. Pô-la na cabeça e ficou assim: i
Um menino príncipe que passou por ali, viu o i e disse:
- Olha a letra i.
E riu muito. - iiiiiii...
Experimenta contar de novo esta história aos teus amigos... e tenta fazer um desenho da letra i com o seu chapéu de pintinha. Se quiseres podes fazer no Paint e se necessário pede ajuda aos teus pais, amigos, professora...

Pedra filosofal

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Devem os meus pais ensinar-me a ler?


A resposta é igual à de tantas outras perguntas no domínio da psicologia e da educação: sim e não. Para alguns teóricos é mais "sim", para outros "não". Para algumas crianças é "se calhar sim", para outras é "se calhar não". É uma temática muito debatida e complexa porque implica muitos conceitos.
As opiniões são divergentes e todas apresentam a sua razão de ser. É aquela antiga história dos quatro homens cegos e do elefante: Era uma vez quatro homens cegos que chegaram perto de um elefante.
- Que será isto? - perguntaram-se uns aos outros.
O primeiro aproximou-se da pata traseira do elefante e disse:
- Isto meus senhores parece-se com um tronco de árvore. É redondo, rugoso e grande. Sim, não há dúvida, isto é um tronco de uma árvore!
O segundo aproximou-se e, tocando num dos lados do tronco do elefante, exclamou:
- Não é nada disso! Isto, meus amigos, é uma parede lisa, áspera, enorme. Isto é uma parede!
O terceiro, ao tocar na tromba do elefante, disse:
- Estão enganados , isto é uma cobra. É fina, enrola-se toda sobre si própria. De certeza é uma cobra!
O quarto, tocando na orelha do animal, conclui:
- Lamento dizer que nenhum de vós tem razão. Isto é uma gigantesca folha de árvore. É fina, lisa, tem uns veios, mexe-se ao sabor do vento. É igual às folhas das árvores sob as quais dormimos a sesta.
Todos eles tinham a sua razão, cada um era dono de um pedaço da verdade. Teriam de juntar cada verdade para chegarem à verdadeira conclusão: era um elefante.
A verdadeira verdade sobre esta questão é difícil de encontrar e não é o que pretendo fazer com estas linhas. Apenas quero partilhar as minhas experiências relacionadas com a aprendizagem da leitura como professora e mãe, levando em conta algumas opiniões de psicólogos e outros técnicos de educação.
O maior desafio é em primeiro lugar tentar "descer" ao nível da criança, tentar perceber o que ela não percebe ou como percebe, apesar de todos os princípios que sabemos sobre o desenvolvimento e aprendizagem da criança. A psicóloga Sara Bahia dos Santos tenta explicar porque a resposta à pergunta inicial é simultaneamente "sim e não": a expressão oral é a base da expressão escrita, o que ler e escrever implica a mais do que falar é o uso de símbolos diferentes: as letras.
O que podem os pais (e educadores) fazer para ajudar a criança na aprendizagem da leitura?
- Falar com a criança, escutá-la com atenção.
- Fazer desenhos.
- Ler e ver livros.
- Contar-lhe histórias.
- Fazer com que a criança veja os pais a ler e a escrever.
- Ter cuidado com os livros.
- Receber cartas, cartões de Natal ou aniversário, enviar e receber mails...
- Elaborar e enviar convites de aniversário ou desenhar e "escrever" para os avós...
Estas são apenas algumas das formas de dar a entender à criança as diferentes formas de comunicar e representar o que ela conhece e PERCEBER PORQUE É QUE É PRECISO LER...
Ensinar a ler implica muito mais do que ensinar a criança a descodificar os sons das palavras que ela pronuncia, fazer corresponder a cada som uma letra de modo a poder formar palavras. A tarefa da criança é perceber que se já consegue ler "a pata" ou até o seu nome também consegue ler muitos dos títulos e palavras dos livros de sua casa ou outros, os cartazes, placas e reclames quando passa na rua... é nesta área que pode e deve ser ajudada pelos pais. Ensinar a ler implica, também ensinar a criança a perceber a utilidade da leitura, a gostar de saber mais, a aperceber-se melhor da linguagem, a expressar ideias e sentimentos, a entender que existem diferentes pontos de vista, tentando construir o seu próprio conhecimento.
Se tudo isto for estimulado em casa, facilitará a tarefa da criança que é tentar aprender e a do professor que ensina a aprender.

POR TUDO ISTO A RESPOSTA É SIM PORQUE:

- Quando os pais são modelos falantes para a criança que vai aprendendo a falar, proporcionam-lhe a oportunidade de utilizar símbolos para referir objectos e conceitos que a criança vai tentando representar interiormente. Ela aprende que "cão" tanto é o cão que ela está a ver, como o cão que ela não vê - a representação do cão, associando a palavra à imagem que ela conhece.

- Quando os pais lêem o jornal ou um livro e eventualmente explicam à criança algo do que leram, ela pode ir percebendo que ler é importante, proporciona mais conhecimentos e informações sobre o mundo à sua volta. se a criança não vir os seus pais a ler, provavelmente, poderá não gostar muito de ler...

- Quando os pais lêem histórias de livros às crianças, normalmente, elas ficam fascinadas com o que está naqueles "desenhos esquisitos" a preto e branco. Verificam que esses "desenhos" dizem muito mais que as próprias imagens, que elas percebem e esse poderá ser um motivo para as incentivar a desejar saber ler.

- Quando os pais vão corrigindo, sem criticar, as palavras que a criança pronuncia incorrectamente ou as frases mal construídas, estão a ensiná-la a falar melhor e a contribuir para que a criança mais tarde, na escola... escreva bem, o que diz bem.
Na maioria das situações do dia a dia, os pais estão a contribuir sem se aperceberem, para a aprendizagem de muitos dos pré-requisitos necessários à aprendizagem da leitura.
"Saber falar" e perceber para que serve ler são bases fundamentais para facilitar a aprendizagem da leitura.
Os pais poderão ajudar numa série de "jogos" que facilitam a aprendizagem da leitura:

Distinguir sons e as sílabas das palavras que fala - uma criança "preparada" para ler começa por perceber que as palavras que diz são constituídas por uma sequência de sons, agrupados em sílabas e esses sons são representados por letras. Se por acaso a criança perguntar se o nome do amigo começa pela letra tal, porque não pedir-lhe para dizer ou inventar outras palavras que comecem pela mesma letra. Ou pedir-lhe para dizer qual o som porque começam os nomes dos amigos. Ao propor tarefas deste tipo devemos ter em conta que é mais simples distinguir, primeiro, sons contínuos:
"r","f","v","s","z","ch","j"...
e depois todos os outros. Ao facilitar esta capacidade de discriminação fonética, estamos também a ajudar a criança a não confundir os sons próximos e a corrigir alguns dos fonemas que ela tem tendência para pronunciar incorrectamente. Podemos jogar ao jogo dos "detectives" e por exemplo tentar descobrir na sala "coisas" começadas por "j", por exemplo, janela ou então palavras que tenham "ão": cão, balão...
Também podemos bater palmas quando a criança se atrapalha com as sílabas de uma palavra, por exemplo se a criança diz "manica", batendo palmas para cada sílaba: má-qui-na.
Todas estas tarefas devem ser encaradas como um "jogo", sem insistência, levando a criança até onde pode ir. Se insistirmos poderemos obter exactamente o contrário, a criança poderá deixar de gostar destas tarefas. Se ela não conseguir, não faz mal, chegará a altura em que estará preparada para tal.

- Na escola é frequente as paredes das salas conterem trabalhos e registos feitos pelas crianças, mesmo nas salas dos três anos. Esta é uma actividade que pode e deve ser continuada em casa. A criança poderá por exemplo, com ajuda de um adulto escrever um bilhete ao pai para lhe contar como foi a ida ao supermercado...Ou fazer um resumo da história que lhe contaram e ilustrar. Desta forma a criança poderá aperceber-se de que a informação escrita é uma fonte de prazer!



- POR TUDO ACIMA REFERIDO A RESPOSTA É NÃO PORQUE:

Se os pais ensinarem aos filhos aquilo que a escola deve ensinar, como é que eles poderão gostar da escola e reconhecê-la como um local de aprendizagem e descoberta?...




- O QUE FAZER?...

- Estimular a curiosidade natural que a criança possui para aprender e perceber o que se passa à sua volta. Ajudá-la a perceber que ler é bom... fascinante e que para se saber ler é preciso representar os sons que as palavras têm através de letras. Tentar que ela descubra para que serve ler, pois quando aprendeu a falar, foi porque teve necessidade disso para comunicar. É essa necessidade que cada criança terá de tentar encontrar para conseguir aprender a ler.

- Ajudá-la a perceber que o que aprendeu na escola, também se pode utilizar em casa e em outros locais. Ou seja se ela é capaz de ler o livro de leitura, também é capaz de ler os livros da estante do quarto, as receitas do bolo ou da pizza, as instruções do jogo, as indicações das placas na rua... e poderá aperceber-se porque é importante não estragar os livros e descobrir o prazer de aprender e de ler...

Adaptado de Sara Bahía dos Santos

domingo, 16 de agosto de 2009

Saber ler


Ele não gosta...
O garoto entrou, decidido. Trazia um pedaço de papel e um lápis. Vinha ver se a Sara escrevia melhor do que ele, se aprendia mais do que ele.
Eram seis anos de rapazinho desembaraçado que vinham enfrentar os seis anos desenvoltos da Sara na presença dos muitos anos de experiência de uma avó cheia de truques.
Nos primeiros momentos foi um duelo entre o Super Homem e a Barbie. Depois entraram em coisas mais pessoais: A Sara já sabe escrever? Tu já sabes ler? Daí saltou-se para os livros que estavam em cima da mesa.
"Eu não gosto de livros" foi o comentário arisco do rapazinho. Do que ele gostava era de jogos de vídeo. Felizmente não disse que só gostava de metralhadoras, podia ter acontecido. A Avó puxou por um dos seus truques:"Mas tu gostas de histórias, não gostas? E as histórias vêm nos livros... Anda ver este..." E o Super Homem a desprezar."Esse eu já tenho, já vi." E os truques da avó a fazerem o cerco:"Mas eu gostava de te contar esta história. " Um braço passado pelas costas do menino, um sofá macio para se afundarem os dois. A história começou, com todos os temperos apropriados à idade. Os primeiros comentários cheiravam a Homem Aranha e outros, mas depois... foi a descoberta do texto, da história, dos desenhos, do humor...a leitura de algumas palavras. Afinal, o menino que proclamava "Não gosto de livros" já tinha folheado aquele, conhecia-lhe as páginas; só não tinha ainda acontecido o momento de tirar desse contacto o prazer que cria uma boa relação criança/livro. Quantos momentos destes deixam de acontecer por desatenção dos adultos, talvez os mesmos que se queixam de que as crianças não gostam de ler.
Acabado o pequeno livro, o menino "não gosto" foi buscar outro parecido, também já tinha olhado para ele, conhecia os desenhos, fazia comentários divertidos, chamava a atenção para pormenores da ilustração.
Estava dentro do livro e divertia-se. Estava à vontade e tirava prazer daquela conversa a quatro, ele, a Sara, o livro e a avó. Talvez não torne a dizer:"Eu não gosto de livros". Talvez seja preciso continuar o "tratamento", mas os primeiros passos estão dados.

Natércia Rocha

Liberdade


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa